Clara saiu de cabeça baixa sentindo-se vulgar e desnecessária!
Caminhou até ao carro de forma trôpega, os sentidos misturados, as lágrimas teimosas, uma vergonha imensa!
Assim que se sentou ao volante percebeu que tão depressa não iria conseguir sair dali, as mãos trementes esfregavam-lhe a cara com vigor revoltadas com a expressão de amor que tinha acabado de devotar a…ELE!
As pernas que O entrelaçaram minutos antes estavam agora cruzadas e inquietas, arrependidas duma prontidão ridícula!
A mente…(ai a mente embaraça-me o relato), a desilusão perante a fraqueza arrastavam-lhe os pensamentos por resoluções implausíveis, por uma entrega acomodada, por um banho de mar final! Vagueava indecisa e desvairada por opções efémeras, nada lhe dava a garantia de estar a agir correctamente, em nada conseguia acreditar ser bem sucedida!
Baixou a cabeça em cima do volante e abanou-a negativamente, não era possível ter chegado ao ponto de se sentir tão supérflua na vida de alguém, não se lembrava de ter sonhado um dia com um amor assim, não tinha percebido até aquele instante o quanto tinha permitido que a fizessem sentir igual a tantas outras que nunca entregam e reclamam a alma no amor!
No peito de Clara crescia uma mágoa insuportável de guardar, uma sensação de pesar que se reflectiram no corpo como uma autêntica dor física! E aqui desabou num choro previsível e sonoro, em soluços agonizantes e inevitáveis.
(Estou certa de a ouvir soltar palavras de desespero, lembro-me de tapar os ouvidos incomodada com a agressividade daquele sofrimento!).
E quando ele voltar a pedir que o abrace? E quando voltar a dizer que me ama?
( Sim…estou certa de a ouvir questionar-se sobre isto, estou certa porque as duvidas dela começavam agora a atormentar os meus diferentes contextos)
Terei força para o recusar? Serei lúcida de forma a não o acreditar?
Fraquejo consciente e sujeito-me a arriscar? Entrego-me desprovida de expectativas?
Abraço-o…morro…digo amo-te…mergulho…
(A Clara incomoda-me. Parece um espelho de sentimentos que tenho comedidos, que todos temos de forma menos intensa. A Clara é dramática e…desperta-me vontades embrenhadas bem lá no fundo do cérebro)