“Estava tudo decidido. Voltaria para ela assim que o trabalho lho permitisse e apesar da ansiedade que os dominava a certeza do que sentiam aquietava-lhes a alma de forma mansa e serena!
As conversas diárias aconteciam sempre à mesma hora e eram minutos de intenso prazer, antecipações de palavras que diriam olhos nos olhos e que sussurrariam ao ouvido um do outro!
Os preparativos para o ultimo trabalho que ele teria começaram rapidamente e sem saber o porquê sempre que pensava no assunto o peito dela apertava inesperadamente como a prever um revés no futuro alinhavado por ambos. Um dia em particular acordou em desespero…o corpo gelado não parava de tremer e pelo rosto pálido escorriam gotas de suor que a inundaram de dúvidas e temores alucinantes! Nesse instante teve a certeza, algo não batia certo, algo iria correr mal.
Indecisa em relação à postura que devia ter, revelou-lhe de forma discreta o seu pressentimento. Ele riu, e naquele jeito complacente e terno que tanto a encantava reiterou a decisão tomada alentando-a momentaneamente e prometendo-lhe que nada impediria o sonhado reencontro!
E assim se iniciou um novo período na vida dela. Uma fase de silêncio encharcada de sombras que a perseguiam de manha à noite, um sossego arrepiante carregado de escuridão que se prolongou pelos dias sem um vislumbre de noticias!
Um dia chegou a carta. Tudo o que poderia ter corrido mal naquela derradeira escalada acabou por acontecer, ele estava “preso” num hospital e impedido de cumprir a promessa que lhe havia feito!
E assim se passaram os dias seguintes. Um misto de desalento e angústia toldavam os dias dela mas recusava-se a encarar que a sua alma gémea iria sair da sua vida para sempre! Diariamente escrevia-lhe pedindo-lhe que não a afastasse, incentivando-o a lutar, insistindo na crença que tinha nos seus princípios, recordando-lhe os abraços e os beijos por dar…assustando-o possivelmente com aquele gostar intenso, com aquele amor excessivo!
Numa das muitas noites que se seguiram algo estranho aconteceu. Um sonho trouxe-o para junto dela e no meio de abraços angustiantes e beijos sôfregos percebeu-lhe um olhar desesperado por uma conversa dolorosa! Não quis ouvir…debatia-se com o inevitável e preferiu imagina-los deitados, cansados mas saciados, separados mas ligados eternamente!
Nada adiantou. No dia seguinte a este sonho, sem surpresa e sem clemência as palavras acabaram por surgir. Estava incapaz, sentia-se incapaz e desistia de tentar concretizar todos os planos partilhados durante tanto tempo!
Não voltou a saber dele!”
Hoje algo me fez lembrar esta treta de historia…
Ou
Hoje algo me fez inventar esta treta de historia…