Tomo um banho com a agua mais quente do que o habitual.
Demoro-me o máximo possível tendo em conta a minha falta de paciência para banhos alongados.
Saio quente e respiro a humidade dos espelhos de olhos fechados…respiro-te antecipadamente e pressinto a tua língua a roçar-me o ombro!
Espalho creme…cheiro o creme e descortino nele pequenos pedaços de ti. Disseco o ar e cativo para mim o que me interessa…
Visto-me, calço saltos, aumento o som de musicas que não partilho com ninguém!
Abro atabalhoadamente uma garrafa de vinho e escrevo-te uma mensagem: preciso de ti…para me abrir garrafas!
Chove lá fora. Uma chuva despropositada, um tempo ameno, um calor que devagarinho me trepa!
Acendo um cigarro e devasso a noite com a dança da espera.
Antecipo-te no escuro, umas vezes como amante que chega para me foder, outras vezes namorado que com ternura se entrega, raras vezes como amigo que esta presente!
Deito fora o cigarro, uma gota de chuva acorda-me o corpo…
Sento-me e tento escrever. Tudo o que senti abandona-me a mente excepto o desejo, o maldito desejo que me entontece mais que o vinho, o bendito desejo que me faz esperar tranquila!
Sinto-te os passos, beberico lambendo a borda do copo, perfumo-me!
Inquieto-me perante a perspectiva. Movo-me como se estivesses atrás de mim a provocar-me uma rendição plena.
Esta quente, não podes falhar. Troco os sapatos rosas pelos pretos!