Terça-feira, 17 de Abril de 2007

Sem aspas desta vez...

Já há algumas horas que olhava para ela. De manha cedo tínhamo-nos cruzado na papelaria onde fiquei a saber que se chamava Clara pelo tom metediço da funcionária que parecia ter um orgulho especial em saber da vida alheia.
Sentada na espreguiçadeira confesso que por instantes me senti a D. Matilde, curiosa e ávida de saber os detalhes íntimos da vida de Clara.
A forma como ela apanhava sol naquela enorme toalha lembrava-me qualquer coisa, sugestionava-me lembranças antigas e não pude evitar um arrepio momentâneo ao compreender inexplicavelmente aquele virar constante de troca de posição, aquela agitação inevitável própria duma falta de serenidade evidente!
De repente clara levanta-se. O olhar dela fica preso no mar que esta à sua frente e durante alguns minutos pressinto o que lhe vai pela cabeça.
Enquanto ali estamos as duas, perdidas em pensamentos e mágoas, lembrando liberdades esvoaçantes, nem nos apercebemos que alguém chega com o intuito de partilhar aquele horizonte que transporta o ser humano para devaneios perdidos.
Eu sou a primeira a intui-lo. Clara esta mais absorta que nunca.
Ele caminha devagar. Adivinho-lhe o nome mas de tão meu que o sinto não o consigo sequer adulterar agora!
Clara suspira conformada e volta-se para regressar à toalha.
Estarreço quando os seus corpos chocam. Não há dúvida que se conhecem!
O momento transpira intensidade. O calor acumulado pelo sol no corpo de Clara mistura-se com o odor que ele carrega e esta amálgama de ingredientes salpica-me os sentidos emocionando-me mais do que seria plausível.
Cumprimentam-se de forma perturbada, oiço-lhes as vozes embargadas, percebo a tentação dum beijo controlada, conheço de cor os gestos que fazem parte dum amor proibido, duma paixão sem fim, dum querer irracional!
O abraço que se segue faz-me doer a alma, o beijo que dão prende-me a respiração, o momento que o destino lhes proporcionou causa-me a angústia da cobiça, o pesar da privação que a mim me coube. Perante o insuportável que é estar ali…fujo para longe!
Nos dias que se seguem cruzo-me varias vezes com clara e o seu amor. Desfilam por mim sem piedade num encaixe perfeito, numa sintonia rara, numa paz comovente!
No entanto não sossego por eles. Auguro sempre que os vejo entrelaçados numa felicidade temporária, uma opção consciente de quem escolheu ignorar o passado, de quem preteriu um futuro incerto por um presente pleno de entendimento!
 
Alguns anos depois numa coincidência irrelevante Clara entra na minha vida. Numa conversa íntima e longa acabo por lhe contar o que presenciei e curiosa pergunto-lhe que é feito dele. Ela sorri nostálgica e responde com outra pergunta.
 
 
Nunca mais souberam dele…
 
música: Caetano Veloso

Inventado por alexiaa às 18:27
link do post | favorito
De Sr. Dr. Ricky a 19 de Abril de 2007 às 19:25
Lindo, absolutamente lindo! Inspirador de suspiros, também eles nostálgicos. Portador de lembranças não tão antigas, pois o tempo de vida não o permite!

=) bjinhos =) ** gostei muito


De alexiaa a 19 de Abril de 2007 às 20:02
Eu sou uma musa autêntica:))), estou farta de pensar em criar uma profissão nova e fazer sucesso como génio da inspiração:).

Merci...e beijinhos para ti!


De Sr. Dr. Ricky a 21 de Abril de 2007 às 21:31
Olha, já não seria a primeira vez se uma invenção de sucesso teria sido anteriormente conversada em tom de brincadeira! =P Lol

beijoca =) *


Comentar:

Mais

Comentar via SAPO Blogs

Se preenchido, o e-mail é usado apenas para notificação de respostas.

Este blog tem comentários moderados.

Este blog optou por gravar os IPs de quem comenta os seus posts.


O minimo sobre mim


ver perfil

. 11 seguidores

Subscrever por e-mail

A subscrição é anónima e gera, no máximo, um e-mail por dia.

Estas são as Ultimas

Aos sonhos que vão diminu...

Even...

Revivendo uma invenção!

Quase por encomenda...:))...

Tenho pena de não ter mem...

Não me ames…ambiciona-me!